Um poema que eu adoro:
A Doença (de Manuel de Barros, 1908-1971)
Nunca morei longe do meu país.
Entretanto padeço de lonjuras.
Desde criança miha mãe portava essa doença.
Ela que me transmitiu.
Depois meu pai foi trabalhar num lugar que dava essa doença nas pessoas.
Era um lugar sem nome nem vizinhos.
Diziam que ali era a unha do dedão do pé do fim do mundo.
A gente crescia sem ter outra casa ao lado.
No lugar só constavam pássaros, árvores, o rio e seus peixes.
Havia cavalos sem freios dentro dos matos cheios de borboletas nas costas.
O resto era só distância.
A distância seria um coisa que a gente portava no olho.
E que meu pai chamava exílio.
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