Ótima exposição! Ainda bem que consegui ir na última semana, senão teria perdido algo grandioso.
Meu amigo me fez companhia, tive com quem comentar cada obra.
Ao mesmo tempo ouvir as histórias de seu namoro feliz só me fez lembrar do quanto sou só. Sabe aquelas histórias daqueles casais perfeitos, praticamente saídos de um filme boboca de comédia romântica americana? É, isso mesmo! Irritante quando se está na secura, não é?
Acabada a exposição, hora de dar minha aula. Fui me arrastando, deprimida, querendo chorar, me sentindo o cocô do cavalo do bandido. Mas como todo professor é meio ator também, eu soube disfarçar, vestir aquele meu sorriso pedagógico incapaz de deixar escapar qualquer emoção humana.
É hora de ir pra casa "chorar, curtir uma fossa"_pensei.
Entro no ônibus e me condeno mais uma vez por não conseguir ler em nenhum veículo. Sou obrigada a enfrentar a longa viagem num imenso tédio. Fazer o quê?
Dez minutos de trajeto. Lá estou eu. Olhando pela janela.
Quando o ônibus para num ponto qualquer.
Observo rapidamente as pessoas a esperar por seus retornos pra casa. Me deparo com um ser simpático vestindo terno e gravata. Não! Não gosto de homens engravatados! Mas a gravata que ele usava era do Pato Donald!
"Ele vai entrar nesse ônibus e vai sentar do meu lado, tenho certeza, tenho certeza!"_pensava fixamente.
Batata! Sentou do meu lado. Sabia!
Fiquei toda animadinha. Gastei mais alguns minutos tentando criar maneiras de puxar assunto.
Ventava muito.
"Você se incomoda que eu feche um pouco a janela?"_perguntei.
"De forma alguma!"_ele respondeu.
"Nossa! Ele disse "de forma alguma", que educadinho!"_dizia para meus botões.
E mais nada.
É, acho que daí não sai mais nada! Não me vem nenhuma ideia e ele me parece um bicho do mato. Well, nevermind.
Mais 30 minutos no chove não molha.
Quando, de repente, tudo para. "Putz, não acredito! Engarrafamento a essa hora? Droga!"
Olho pela janela e não vejo nenhum engarrafamento.
"Caramba! O que será que está acontecendo? Que saco!"_penso alto.
"Deve ser alguma confusão. Parece que é ali naquela delegacia, olha só"_ele responde.
"Ah, o rapaz se comunicou, não é? Vou usar isso a meu favor!"_arquitetava um plano "maligno", afinal de contas, teria que achar algo de positivo em ficar parada no mesmo lugar por mais de não sei quantos minutos.
Essa foi a deixa. A conversa depois comeu solta.
"Será que foi assalto?", "Tomara que não comece o tiroteio!", "Tenho uma tradução pra entregar", "Tô morrendo de fome", "Você faz o quê?", "Sou advogado", "Ah, imaginei, você tá de terno...", "Sou professora de inglês", "Qual o seu nome?", "Quantos anos você tem?" "23, 27", "Blá, blá, blá...", "Vai saltar aonde?", "Você tem e-mail?"
No dia seguinte, lá estava um e-mail na minha caixa postal. Falando como tinha sido legal me conhecer etc e tal. Começamos a trocar mensagens eletrônicas, depois telefonemas.
Conversávamos sobre música, filmes de terror, essas coisas...
Quando ele me falou sobre sua família, senti um gelo na espinha, afinal de contas ele era filho único de mãe solteira e isso não costuma dar em boa coisa. Não é preconceito, é constatação! De qualquer forma, não deixei que isso me impedisse de fazer nada.
Depois de muita conversa fiada, decidimos finalmente marcar algo de fato. Cinema.
O primeiro Homem-Aranha tinha acabado de estrear e, como ambos gostávamos de super-heróis, não poderia haver melhor escolha.
Era um sábado chuvoso. Muito chuvoso.
Todas as minhas amigas iriam para a Lapa, como sempre fazíamos. Eu iria ao cinema. Acompanhada. Oba!
Ele não tinha carro, nem eu. Decidimos nos encontrar no ponto do ônibus que ia para a Barra da Tijuca, onde ficava o cinema.
Estava toda arrumada. Do meu jeito, mas toda “nos trinques”, como dizia minha avó.
A gente deve caprichar no primeiro encontro, pelo menos pra causar uma bela impressão, é o que sempre achei.
Por acaso encontrei a turma da boêmia na rua quando rumava ao meu encontro. Todos elogiavam e eu estava toda empolgada, animadíssima.
E eis que ao chegar ao ponto, vejo um ser totalmente diferente do que tinha visto no ônibus. Ele vestia uma camisa cor de goiaba com as mangas longas dobradas até a altura dos cotovelos “desde Miami Vice não via isso” _ pensei, calça comprida de cor estranha que não sei definir e um par de tênis pra lá de esquisitos. Tive a nítida impressão de que ele havia sido vestido pela avó. Sem brincadeira. E eu lá toda estilosa.
Humpf!
Me deu vontade de inventar que estava com dor de barriga e dar meia volta, mas achei que estava sendo muito crítica com o rapaz e decidi dar um chance. Quem sabe isso seria o único problema, não é?
Entramos no ônibus. Sentamos. Começamos a jogar conversa fora.
O ônibus dá uma freada mais brusca e seguro o ferro do assento. Ele olha pras minhas mãos: “Nossa! Você tem mãos muito bonitas”.
"Ah, obrigado"_respondi.
"E você fez as unhas, pois quando nos conhecemos também tinha observado suas mãos e as tinha achado bonitas, mas as unhas não estavam cuticuladas!"
"Hum"_respondi. "Como assim, um homem dizer cuticuladas?????"_pensei.
"Sabe, a minha mãe também faz as minhas unhas!"_ele disse.
"Sério?"_indaguei, quase gargalhando. "Mas hein?"_pensei, enquanto imaginava todas as outras coisas que a mãe dele deveria fazer com ele e para ele. Argh!
De repente, ele começa a mexer no bolso da camisa, tentando tirar algo de dentro dele. Imaginei: bala, chiclete, amendoim, moeda e uma série de coisas.
Como um mágico, ele tira um saco plástico de mercado do bolso e enfia nele os guarda-chuvas, que estavam encharcados.
"Pra quê o saco?"_questionei.
"Nossos guarda-chuvas estão molhados e vão ficar pingando na gente."
"Ah, tá."_tive preguiça de argumentar.
Daí em diante, eu não conseguia pensar em mais nada além de "como eu faço pra convencê-lo a tirar os guarda-chuvas do saco?". Eu não podia suportar a ideia de entrar no cinema com um homem vestido a la Miami Vice carregando um saco de mercado com dois guarda-chuvas encharcados cheirando a mofo. Não podia!
Por mais de cinco minutos ele falava, falava, mas eu nada ouvia. Parecia até a professora do Charlie Brown: "Bláblábláblá..."
Tive um insight, inspiração divina: "Olha só, a chuva já parou. Você não acha melhor tirar os guarda-chuvas do saco pra que eles possam secar ao vento? A janela está aberta!"
"Poxa, ótima ideia!"_ele dizia, celebrando de maneira boboca, com o punho cerrado.
Mas pelo menos tirou os guarda-chuvas do saco. Graças a Deus!
Nesse momento eu já estava arrependida de ter topado sair com ele e só pensava nas tantas outras coisas que eu poderia estar fazendo naquele exato momento que seriam mais divertidas que isso. Tais como: bingo beneficiente, almoço dançante, final de campeonato de xadrex, etc, etc e etc.
Depois de mais alguns minutos, chegamos ao cinema e fomos direto pra fila comprar os ingressos. "Espero que ele pague, afinal de contas é o mínimo que ele pode fazer pra amenizar essa situação."_pensava enquanto fingia que não achava a carteira dentro da bolsa, procurando, procurando...
"Deixa que eu pago!"_falou.
"Uhum!"_disse. "Oba!"_pensei.
Depois dos ingressos pagos, fomos pra fila da sala do cinema. Acho que na nossa frente só havia 3 ou 4 pessoas. Estávamos muito bem posicionados.
Daí, comecei a sentir um frio na espinha ao imaginar que ele poderia tentar me beijar no cinema. Decidi usar uma tática que na época me era muito comum: falar mal de mim mesma. Tudo que ele perguntava eu respondia de forma a me depreciar. Disse que tinha problemas com bebida, cigarro, drogas e por aí vai. E pra tudo que eu dizia, ele respondia: "Jura? Nossa, você é realmente diferente de tudo que eu já vi, muito bom ter conhecido você e blá, blá, blá."
Quando a sala foi liberada e as pessoas começaram a entrar, qual não foi o meu espanto ao ver aquele ser correndo alucinado na frente, me deixando pra trás, sem dó nem piedade. Eu andava até mais devagar de tão pasma que estava, não conseguia acreditar no que via.
Ele lá em cima e eu ainda me direcionando à escada rolante. Quando vi essa cena, comecei a gargalhar, surreal demais pra minha cabeça... Quando ele ouviu as minhas risadas, parou e se mancou do que estava fazendo, me esperando.
"Ah, desculpa, é que eu queria sentar no melhor lugar da sala, afinal de contas, é o Homem-Aranha!"_com aquela cara de quem estava dando uma desculpa esfarrapada.
"Melhor lugar é algo bem relativo, você não acha?"_o coitado nem percebeu a ironia na minha resposta.
A sala do cinema nem estava tão cheia, mas quando entramos ele fez um bico enorme e disse: "Droga! Agora meu lugar já está ocupado!"
"Bom, eu vou sentar aqui, se quiser, pode sentar em outro lugar!"_naquela altura do campeonato eu já estava perdendo o bom-humor.
Mais uma vez, ele tardiamente se mancou e se sentou bem calminho do meu lado.
"Olha, eu ouvi falar que vão passar o trailer do Hulk, se passar de fato, não vou aguentar, eu vou gritar!"_ele disse, ao mesmo tempo que, extremamente excitado, se sacudia na cadeira.
"Se você gritar, acho bom você gritar olhando pra lá, pra não gritar no meu ouvido!"_engrossei.
"Eu só disse por dizer..."_todo constrangido da besteira que tinha falado.
Aí, o bicho pegou. Ele começou com aquele papinho meio romântico, pegou na minha mão: "Nossa! Você não faz ideia do quanto foi bom conhecer você, uma pessoa assim, assim, assado..." e começou a destrinchar uma série de elogios à minha pessoa.
E eu só pensava: "Ferrou, ferrou, ferrou!!!! Ele vai tentar me beijar! PQP!"
Quando de repente, surtei e gritei: PIPOCA!
"O quê?"_não entendendo nada.
"Pipoca! Vou comprar pipoca!" e saí desembestada, suando frio.
Voltei com o maior saco de pipoca que vi no meu caminho, mega-ultra-giga-gama-pipocão e um guaraná tamanho jumbo! Tinha que manter minha boca entupida durante duas horas, compreensível, não?
"Caramba, que pipocão!"
"É, eu a-d-o-r-o pipoca!"_cinicamente respondi.
Durante os trailers, ele continuou a tecer seu rosário de elogios. Tentava pegar na minha mão e tudo o mais. Só que agora eu já estava prevenida e sempre respondia com a boca lotada de pipoca: "Obrigada!". Contrariando tudo o que as mães ensinam pra gente a vida inteira, lá estava eu falando com a boca cheia. Cheia não! Minha boca mais parecia o metrô na hora do rush de tanta pipoca!
Apagaram-se as luzes e finalmente o filme começou.
Sussurrei pra ele: "Bom filme pra você!". Era minha maneira de dizer: "Por favor, não fale comigo pelas próximas duas horas da minha vida!"
Quando a sessão acabou, nem sabia direito o que falar pra criatura que ali estava.
Saindo da sala de exibição, passamos por uma cervejaria. "Você gosta de cerveja?"_ele perguntou. "Mais ou menos, gosto mesmo é de vinho!"_respondi, forçando simpatia.
"Ah, é? Poxa, de vez em quando minha mãe abre uma garrafa de vinho e nós dois bebemos inteirinha!"_ele contava animado. "Uhum!" _ respondi. "Meu Deus do Céu! O que mais que essa mãe deve fazer com esse cidadão?"_me perguntei, um tanto quanto enojada pelas coisas horrendas que minha imaginação projetava. Eca!
Por educação e sem o mínimo ânimo, perguntei ao rapaz: "Você vai querer comer alguma coisa?", "Ah, não, já são sete e meia da noite e eu não avisei à minha mãe que ia chegar tarde em casa. É perigoso!"
"Caraca! Um homem de 27 anos tem hora pra chegar em casa?"_fiquei chocada.
E de novo os pensamentos nojentos dele com a mãe tomaram conta da minha mente. Socorro!
Voltamos pra casa e ele me deixou no portão.
Entrei e fiquei zapeando pelos canais da TV. Depois de horas, minha irmã chegando da bagunça, perguntou: "E aí, como foi o encontro?"
Ao que respondi: "Ih, é uma longa história, depois te conto."
Fui dormir rindo de mim mesma e da situação esdrúxula que tinha acabado de vivenciar.
No dia seguinte, um e-mail da criatura: "Sei que fui uma péssima companhia, gostaria que você pudesse me dar uma chance pra me redimir."
Nem respondi. Nunca gostei de perder tempo.
O mais triste de tudo isso é que fiquei zangada com o Homem-Aranha por um bom tempo. Não me pergunte porquê.
Essas coisas só acontecem comigo.
sábado, 17 de agosto de 2013
sábado, 19 de janeiro de 2013
Janis e Eu
Os artistas não têm mesmo noção da influência que têm sobre as pessoas e do quanto podem fazer vidas mudarem por aí... E talvez seja melhor assim mesmo; que nunca saibam...
Minha história com Janis começou quando eu tinha uns 10 anos de idade e a ouvi cantando em algum lugar. Não lembro se foi num filme ou num programa de TV, mas lembro do efeito instantâneo que teve em mim. Fiquei apaixonada por aquela voz rascante e selvagem e quis saber mais.
Eu comecei a pesquisar sobre essa mulher, comecei a gastar todo o dinheirinho que recebia em discos. Era de se estranhar que uma criança de 10 anos gastasse seus trocados com isso, mas como eu era um menina de hábitos solitários, não causava muita estanheza nos meus pais. Já estavam acostumados e às vezes até partilhavam comigo meus momentos musicais...
Aos 11 anos minha mãe me deu minha primeira camisa de rock. É claro que era da Janis! E eu fiquei tão vaidosa que mal cabia em mim, a usando repetidas vezes.
Fui crescendo e a paixão continuava ali, no peito.
E a adolescência foi desse mesmo jeito, comecei a vestir roupas de hippie e comprei óculos de aro redondo. Até ganhei o apelido de "Janis" pelos meus colegas da escola. E passei a assinar todas as minhas coisas assim.
Janis Joplin me abriu os ouvidos. A partir dela passei a ouvir tudo o que eu ouço até hoje. Por isso, a chamo de musa maior, ou musa número 1. Serei eternamente grata!
Hoje já estou na casa dos 30 anos e já não tenho mais as bobices de adolescente, já não me visto mais de hippie, meus óculos de aro redondo enferrujaram completamente, minha camisa encolheu...
Mas ainda sinto o mesmo frio na barriga quando a escuto cantar, a mesma vontade de fechar os olhos e toda a nostalgia que ela me traz...
Se você estivesse viva, hoje seria seu aniversário, mas como um verdadeiro artista nunca morre, eu posso dizer bem alto: Feliz aniversário, Janis Joplin!
Assinar:
Postagens (Atom)